Para onde o KDE está indo – Parte 1

Por Jos Poortvliet

Esse artigo explora onde a comunidade KDE está atualmente e para onde está indo. Frameworks, Plasma, KDE e.V., Qt5, KDE Free Qt Foundation, QtAddons – você já ouviu alguns desses termos e deseja saber porque todo barulho em torno deles? Um conjunto de artigos no Dot pretende esclarecer sobre as mudanças e continuidades da comunidade KDE em 2014 e além. Este é o primeiro artigo, mergulhando no lado técnico das coisas: Plasma, aplicativos e bibliotecas.

O KDE são as pessoas

Hoje a nossa tecnologia vai muito mais além do que as origens humildes em 1996, quando começamos a construção de um Ambiente de Trabalho. O KDE tem hoje muitas centenas de desenvolvedores ativos. Eles não fazem um ‘desktop’ (Plasma Desktop), mas também um variante para tablets (Plasma Active) e TVs (Plasma Media Center); Plasma Netbook tem 5 anos!

Enquanto isso, os aplicativos do KDE foram além de simples relógios e calculadoras – nós temos uma suíte office completa, e-mail e calendário, vídeo e editores de imagem e muito mais. Não só isso, os aplicativos do KDE estão sendo portado para múltiplas plataformas de Windows e Mac para Android. E as nossas bibliotecas (que estão sendo renomeadas para Frameworks 5) serão modulares, tornando-os disponíveis gratuitamente para um público muito mais amplo do que apenas os desenvolvedores do KDE.

Hoje, o KDE não é mais um Unix Desktop Environment. Hoje, o KDE são as pessoas: nós. Você e eu. E as nossas tecnologias – Plasma, Aplicativos e Frameworks estão fazendo mais do que nunca. Vamos explorar aonde elas estão indo, começando com o Plasma, fundamental para a nossa interface desktop.

Plasma por KDE

O Plasma foi concebido como a próxima geração de tecnologia desktop do KDE. Quando a sua arquitectura foi projetada em 2006 e 2007, o objetivo dos desenvolvedores era construir uma base modular adequada para múltiplas interfaces de usuário diferentes. É fácil ver isso como um objetivo óbvio em um mundo com telas de alta resolução, tablets, celulares, centros de mídia e assim por diante. Mas, como argumentei aqui, até hoje, a tecnologia do KDE é única em sua capacidade de convergir os diferentes form factors em um nível de código. Outros ainda estão ou tentando construir uma interface para uma ampla variedade de dispositivos, procurando um meio-termo ou perceberam que a convergência de interface de usuário é um exercício fútil e criaram interfaces separadas.

Plasma 5

O Plasma levou algum tempo para amadurecer, em parte devido ao seu design ambicioso, em parte porque as tecnologias com as quais ele foi construído não eram maduras o suficiente para as suas necessidades. Este ainda é um pouco de um problema hoje, e as séries 4.x têm soluções alternativas para lidar com as deficiências nas plataformas inferiores.

Isso é onde a próxima geração da tecnologia Plasma entra. Convenientemente chamado Plasma Next, ele vai trazer design pixel-perfect e uma boa performance graças às tecnologias do QML e do Qt 5 e renderização gráfica totalmente acelerada por hardware. Suporte à alta DPI e a capacidade de trabalhar com Wayland (a próxima geração de servidor gráfico do Linux) estão previstas tambémmas também não se espera que sejam totalmente acabado com a primeira versão. 

Com o Plasma 5 a equipe pode começar a trabalhar no sentido de levar a mudança perfeita de espaços de trabalho quando trocam de um dispositivo para outro. Por exemplo, conectar um teclado e mouse em um tablet pode acionar o Plasma para transformar sua interface de usuário tablet-and-touch otimizada em interface desktop. E os aplicativos, sendo notificados da mudança, podem seguir se adaptando ao form factor. A tecnologia Plasma atual já pode sugerir para aplicações que arquivos gráficos QML/Javascript se encaixam no form factor atual e já está sendo usado em Plasma Active, o espaço de trabalho do Plasma otimizado para tablet. Nada disso requer que você faça logout e depois efetue login novamente você pode apenas continuar a trabalhar com o documento que você estava trabalhando ou continuar lendo esse site!

Esses recursos colocam o atual Plasma muito à frente de qualquer concorrente e a diferença só vai aumentar com o lançamento do Plasma Next. Mas esses recursos avançados não levam embora a interface familiar. A equipe do Plasma está plenamente consciente do valor dos fluxos de trabalho estabelecidos dos usuários de computador e a necessidade de não interrompê-los. Isto significa que haverá perda mínima de funcionalidade ou alterações na configuração do ambiente de trabalho. Apenas performance mais suave, aparência elegante e mais flexibilidade.

O Visual Design Group, Design Interativo e Usabilidade

Além do trabalho técnico, há também um trabalho de design e usabilidade acontecendo. A idéia por trás do Visual Design Group foi a construção de uma equipe no KDE que se concentrará em design. Isso é feito de uma maneira nova, liderada pelo entusiasmo de Jens Reuterberg, um entusiasta de FOSS e designer da Suécia. Desde a criação da equipe de design, tem havido trabalho em muitas áreas. Houve novos ícones e melhorias para elementos de design existentes no software KDE, mas a maior parte do trabalho tem sido focada no Plasma Next. Um tema para widget está em desenvolvimento, um tema para cursor também e os ícones estão sendo discutidos. E o Plasma 5.0 mudará para a fonte Oxygen por padrão. Mas a equipe também analisa design interativo e fluxos de trabalho na interface, trabalhando em conjunto com a equipe de usabilidade do KDE.

A equipe de usabilidade mantém os desenvolvedores e designers experimentando novas interfaces de usuário, garantindo que o impacto do seu trabalho sobre o usuário é avaliado. A equipe realiza pesquisas e testes, bem como usa a sua própria experiência para ajudar os desenvolvedores do KDE a projetar aplicativos poderosos, mas fáceis de usar.

Especialistas em usabilidade têm dado feedback em várias áreas do software KDE, por exemplo, trabalhando em estreita colaboração com os desenvolvedores de uma nova interface de gerenciamento de rede para o Plasma. Outro exemplo é a experiência de sala de bate-papo no KDE Telepathy. Atualmente, está também em curso um trabalho de reformulação do Systemsettings e muitas outras coisas.

Em eventos como Akademy, a equipe de usabilidade dá aos desenvolvedores a formação para realizar testes em interfaces de usuário com usuários reais. Além de trabalhar diretamente com desenvolvedores e treiná-los, a equipe de usabilidade tem refeito as Diretrizes de Interface Humana do KDE.

Trabalho em progresso

O primeiro lançamento desta nova geração do Plasma não será sem seus problemas. Com uma mudança substancial na stack básica vêm novos e interessantes crashes e problemas que precisam de tempo para serem resolvidos. Isto pode também acontecer com os artefatos visuais. Enquanto o QML2 traz uma melhor aparência devido à sua perfeita integração com o OpenGL e um posicionamento mais preciso, a imaturidade do Qt Quick Controls, o sucessor da tecnologia widget de 15 anos no Qt, trará algumas arestas em outras áreas. Além disso, como o mais recente anúncio Beta aponta, o desempenho também é fortemente dependente da configuração de hardware e software específicos:

“Em alguns cenários, o Plasma Next mostrará um desempenho suave – enquanto em outros momentos, ele será prejudicado por várias falhas. Estas podem e serão abordadas, no entanto, muito depende de componentes como Qt, Mesa e drivers de hardware. Novamente, isso vai precisar de tempo, já que correções feitas no Qt agora simplesmente não vão ser lançadas até o momento em que a primeira versão do Plasma Next se tornar disponível”. O Plasma 5.0 tem lançamento previsto para julho de 2014.

Leia mais:
 

Os aplicativos do KDE

Em comparação com a área de trabalho e bibliotecas, a situação com os aplicativos do KDE é mais simples. Atualmente em 4.13, o próximo lançamento será o 4.14, chegando em agosto. Depois disso, haverá outro lançamento (em conjunto com os aplicativos baseados no KDE Framework 5), mas o que vem a seguir ainda está em discussão. A equipe de lançamento do KDE tem experimentado o encurtamento do ciclo de lançamentos. Ciclos de lançamento mais curtos parecem ser uma tendência em todo o ecossistema, facilitada por ferramentas e processos melhorados.

Um ciclo de lançamento muito rápido?

Experiências no mundo dos aplicativos móveis e web têm mostrado que os usuários são muito mais propensos a começar a usar recursos e apreciar pequenos lotes, em vez de grandes despejos. Ciclos de lançamento curtos podem trazer correções de bugs e melhorias para nossos usuários muito mais rápido. Por outro lado, a maioria dos usuários de software KDE acessam seu software e atualizações por meio das distribuições downstream que estão em ciclos de lançamento mais lentos, apesar de terem repositórios para software atualizado. Por isso este é um debate que precisa incluir as distribuições, tanto quanto os desenvolvedores upstream.

E em todo caso, tanto a nossa infra-estrutura de lançamento quanto a nossa promoção terão de ser ajustadas também. Isso começou na lista de discussão do KDE Community, com propostas que envolvem uma reorganização dos aplicativos do KDE, mudanças no ritmo de lançamento e transformação dos aplicativos do KDE 4.15 em um release de Suporte de Longa Duração para que os desenvolvedores de aplicativos possam mudar seu foco para o Frameworks 5.

Mudando para o Frameworks 5

A tendência para ciclos de lançamento mais curtos requer muitas perguntas respondidas antes que se torne viável na prática. Mas a mudança para Frameworks 5 é certa de acontecer em algum momento, a questão é apenas quando. Alguns aplicativos já começaram a ser portados, encorajados pelo progresso rápido que está ocorrendo no Frameworks 5. Entretanto, a maioria não foi portada ainda.; é pouco provável que a maioria dos aplicativos sejam portados para o Frameworks 5 até o final do ano. A migração é relativamente fácil, mas as equipes variam em foco e objetivos, por isso teremos aplicativos baseados no Frameworks 5 lançados junto a séries 4.x por um tempo.

Aqui, novamente, os desenvolvedores do KDE querem que o processo de atualização seja suave para os usuários. Em suma, as séries 4.x estarão conosco por enquanto, e uma série Frameworks 5 estará disponível em paralelo. Independentemente da série, os aplicativos irão trabalhar bem em qualquer ambiente de trabalho. Os desenvolvedores querem garantir que a migração não é um problema.

Leia mais:
 

Bibliotecas do KDE

Quando o KDE começou há mais de 15 anos, o desenvolvimento foi impulsionado pelos aplicativos. As bibliotecas eram destinadas para compartilhar o trabalho, tornando o desenvolvimento mais fácil e mais rápido. A nova funcionalidade nas bibliotecas foi adicionada com base em regras simples. Por exemplo, se uma funcionalidade especial foi usada em mais de um lugar, ele foi colocada em uma biblioteca compartilhada. Hoje, as bibliotecas do KDE fornecem funcionalidade de alto nível, como barras de ferramentas e menus, verificação ortográfica e acesso ao arquivo. Elas também são usadas ​​ocasionalmente para corrigir ou contornar problemas no Qt e outras bibliotecas que o software KDE depende. Distribuído como um único conjunto de bibliotecas interligadas, elas formam uma base de código comum para (quase) todos os aplicativos do KDE.

Frameworks 5

Sob os esforços do KDE Frameworks, essas bibliotecas estão sendo metodicamente reformuladas em módulos independentes multiplataformas que estarão facilmente disponíveis para todos os desenvolvedores do Qt. Algumas funções já foram adotados como padrões no Qt. O KDE Frameworks – desenhadas como extensões às bibliotecas do Qtvão enriquecer o Qt como um ambiente de desenvolvimento. O Frameworks pode simplificar, acelerar e reduzir o custo de desenvolvimento no Qt, eliminando a necessidade de reinventar funções-chave. O Qt está crescendo em popularidade. O Ubuntu está construindo o Ubuntu Phone com Qt e QML e planejando migrar todo o ambiente de trabalho no futuro. Os projetos GCompris e LXDE desktop estão em processo de migração para o Qt. O Subsurface (um projeto de registro de mergulho que ficou famoso por ter Linus Torvalds como contribuidor principal) teve sua primeira versão baseada em Qt.

Com Frameworks, KDE está ficando mais perto do Qt, beneficiando ambos, assim como mais e mais usuários e desenvolvedores. A equipe do Frameworks planeja fazer lançamentos mensais com desenvolvimento com menos branch. Isso significa que tudo será desenvolvido em master, de modo que cada versão irá conter algumas novas funcionalidades e correções de bugs. É claro que este tipo de ciclo de lançamento vem com um preço próprio. Recursos lançados em módulos só podem ser introduzidos de uma forma muito granulada, de modo a não comprometer a estabilidade e a nossa integração contínua, e ferramentas de teste serão levadas muito a sério. Todo o código modificado tem que vir com os testes correspondentes e há um forte foco na revisão por pares. Este modelo ainda está em discussão com as equipes de distribuição, considerando o impacto sobre as suas práticas de lançamento. KDE Frameworks 5.0 está previsto para ser lançado na primeira semana de julho de 2014.

Leia mais:
 

Conclusão

Agora, nós cobrimos o Frameworks, Aplicativos e Plasma – toda a gama de tecnologias do KDE. No segundo semestre deste ano, podemos esperar que a nova geração do Frameworks e Plasma esteja disponível. Os aplicativos vão demorar um pouco mais, no entanto, devem rodar em qualquer ambiente de trabalho. Todos têm alterações no ciclo de lançamento, já não serão liberados como parte do completo KDE Software Compilation. Em comparação com a grande mudança anterior na plataforma (KDE 4.0), estas serão incrementais em nível técnico. O Plasma Next e o Frameworks 5 são muito sobre aproveitar o fato de que nossa infra-estrutura foi pega com as nossas ambições. Temos a intenção de entregar estes benefícios na forma de uma grande experiência para os nossos usuários!

Na próxima semana, vamos publicar a segunda parte da mini-série “Para onde o KDE está indo”, com um olhar para a governança do KDE e como a nossa comunidade tem se transformado.

Esses artigos são baseados em uma palestra dada em conf.kde.in por Jos Poortvliet com muitas contribuições de colaboradores do KDE. Uma versão mais extensa desses artigos, citando membros da comunidade KDE, pode ser encontrada no próximo número (agosto) da revista Linux Voice, “a revista que devolve à comunidade de Software Livre“.

O artigo original em inglês pode ser lido no dot.kde.org

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.