Nesta semana, Nos Bastidores do Kde entrevista uma das autoridades desconhecidas por trás da equipe de sysadmin. É o David Solbach. Clique na imagem para ver onde David estava durante o “Fjällraven Classic“.
Ele é o mantenedor do reviewboard.kde.org .Ele não só tem sua maneira de revisar código, mas também sabe como projetar e desenvolver analizadores de sangue além de ter sido um dos atingidos quando a bolha da web explodiu. Aproveite uma divertida e interessante entrevista com David!
Você poderia se apresentar?
Eu sou David Solbach, 30 anos de idade e vivo em Frankfurt/Alemanha já há algum tempo (desde 2003). Eu nasci em uma pequena cidade chamada Marburg a 100 km ao norte daqui.
Desde quando comecei a andar, eu me interessava por tudo que bipava, tinha botões ou, melhor ainda, um monitor e um teclado! Então eu passava um bom tempo no C64 do meu vizinho quando eu tinha mais ou menos 5 anos. Ainda me lembro do natal de 1986 quando meus pais me enganaram, fazendo-me pensar que a única coisa que eu poderia ganhar era um par de meias. Tentei fingir alegria e eu fiquei muito feliz quando descobri que eles tinham escondido meu proprio C64 (usado) por trás das cortinas! Não foi muito legal da parte deles, né? 🙂
Depois da escola, eu estudei ciencia da computação nas famosas “Berufsakademie”. É quando você estuda por três anos e passa metade do tempo na empresa que financia seus estudos durante aquele período. Então é uma mistura de educação prática e teórica.
Minha empresa era “Biodata”, mas esta é outra divertida (e também não tão divertida) história, que poderia ser muito longa para esta entrevista. (Tem um filme em alemão sobre isso: http://www.weltmarktfuehrer-derfilm.de). Resumindo: a empresa faliu quando a explosão da bolha da web estava chegando ao seu final. Tempos interessantes, eu diria. 🙂
Recentemente, em abril, minha filha Lisa-Johanna nasceu e ela me mantém bem ocupado, de um jeito meigo. 🙂
Poderia nos dizer o que você faz para viver?
Eu trabalho na Siemens Healthcare em um lugarzinho proximo a Frankfurt onde analizadores de sangue são projetados e construídos. Meu trabalho nisso é o desenvolvimento de software de controle para esses analizadores. Esta é a parte do software que está controlando os atuadores (a maioria motores de passos) e sensores para produzir resultados. É escrito em C.
Poderia nos dizer o que você faz pelo KDE?
Eu cuido da hospedagem de alguns sites (e.g. o site do plasma) e o ReviewBoard. E claro eu tento promover o KDE e o software livre onde eu puder.
Você está mantendo o ReviewBoard por anos. Por que tamanha dedicação?
Acho que você está superestimando o trabalho que eu tenho mantendo o ReviewBoard. 🙂 Na verdade não é tanto assim. Mas acho que devemos reagir rapidamente à requisição de usuarios e à interrupções de servidor ou outros problemas, quando eles acontecem. Eu tento fazer isso.
O que me motiva? Bem, eu amo a idéia de software livre e código aberto. Minha tese de conclusão de curso foi sobre gerenciamento e compartilhamento de conhecimento. Acho que Código Aberto é conhecimento sendo compartilhado em sua forma mais pura. Na minha opinião é a única maneira viável de seguir, ao menos se você for pensar a longo prazo.
Fazer esse pequeno trabalho de administração para o KDE é uma maneira bem-vinda de dar algo de volta para a comunidade. Eu não tenho tempo para fazer nenhum trabalho relacionado a desenvolvimento no KDE, mas eu tenho um profundo respeito por aqueles que o fazem em seu tempo livre! (sem esquecer daqueles que são pagos para trabalhar no KDE).
Revisão de código é uma área que você tem um interesse especial? Em caso afirmativo, por que?
Acho que você poderia dizer isso, sim. Como a maioria dos desenvolvedores, eu gosto de codificar mais do que revisar, mas no trabalho tentamos revisar códigos sempre que possível, e frequentemente eles são mandatórios (regulações FDA e por ai vai), especialmente se as mudanças modificam a base de código usados por clientes em produtos liberados. O slogan do ReviewBoard é “Sinta a dor da revisão de código!”, que pareceu algo que poderíamos usar também. Então acho que eventualmente acabaremos usando o ReviewBoard em nosso site como uma ferramenta para fazer revisões de código.
Esta é a primeira vez que você “importou” coisas do mundo open source para o seu trabalho?
Não! O KDE foi um dos primeiros (bem, relativamente um dos primeiros) a adotar o Subversion. Durante esse tempo eu já tinha começado a acompanhar o desenvolvimento do KDE e aprendi as várias vantages do SVN comparado a sistemas baseados no CVS (usavamos PVCS Version Manager, coisa horrível!).
Isso era algo que eu poderia usar muito bem no meu trabalho. Depois de 2 anos de promoção, um pouco de sorte e o apoio do meu chefe, terminamos usando o Subversion como nosso VCS oficial. Eu acho que vários de meus colegas de trabalho, incluindo eu claro, estão muito felizes com essa escolha. Também mostrou o potencial do software de código aberto para várias pessoas em um local que não tinha muito contato. Atualmente, até mesmo o pessoal que não lida diretamente com software, ou seja, no projeto mecânico, estão usando. Até migração de dados e suporte em treinamento não foram problemas com ajuda de empresas terceirizadas (Polarion, CollabNet). Mas acho que estou pregando para o coro aqui. 🙂
Ah, e quase esqueci, tambem usamos o CMake em um de nossos projetos, também inspirados no KDE. Ele supre nossas nescessidades e está funcionando muito bem até agora!
Nos próximos meses a coisa vai mudar, devido a transição para o git. Você poderia explicar as mudanças e sua função no processo?
Basicamente, nós iremos configurar uma nova e brilhante instância do ReviewBoard e será integrado em um gerenciador centralizado de usuários (via LDAP). Adicionalmente, iremos usar o git como repositório central. Felizmente parece que o ReviewBoard apoia esta funcionalidade, então meu trabalho será principalmente configurar da maneira devida e garantir que está rodando bem. Eu espero alguns pequenos solavancos no caminho, mas nada sério, pequenos testes na integração com o git já estão sendo realizados. Autenticação LDAP também funciona já a alguns dias.
Em sua opinião, quais as áreas que os softwares do KDE brilham?
Primeiramente, acho que as bibliotecas e o framework base são ótimos. Acho o Qt uma boa (e bem documentada) base para se construir algo. Outra coisa, acredito eu, seja o consenso na comunidade de desenvolvedores para fazer as coisas de um jeito inteligente e reusável sempre que possível. O plasma, junto com outras bibliotecas, parecem construídas nesse principio, isso que é realmente legal.
Agora as aplicações. Atualmente tenho aplicações no KDE (e no Linux em geral) que supre todas as minhas necessidades. Mais notadamente uso o KMail, Kdenline, K3B, Amarok, KMyMoney, só para enumerar alguns. Ah, e não muito tempo atrás eu me deparei com o KRenamer que é um verdadeiro salva-vidas, ja que minha câmera geralmente usa datas erradas em nomes de arquivos.
E, por ultimo: KDE tem uma ótima aparência! 🙂
Você tem alguma visão, como e onde você quer que o KDE em geral esteja daqui à 5 anos e o sysadmins em particular?
Hmn. Para o desktop eu gostaria que o KDE continuasse à sua maneira em águas calmas depois da mudança brusca desde o 4.0 e as últimas versões depois dela. Acho que seria bom se focar um pouco mais em estabilidade, polimento e otimização do desktop que o KDE SC 4.5 já busca. Adicionalmente a integração entre dois mundos desktops e os desktops e distribuições devem continuar a provêr uma boa experiência ao usuario de maneira geral. Sei que pode soar um pouco negativo, mas esses pontos geralmente são os mais difíceis em projetos open source (todos gostam de programar novas funcionalidades, certo?). Se o KDE puder melhorar nesse ponto, seria realmente uma grande vantagem para a competição.
Também estou ansioso para ver o que o KDE poderá fazer em dispositivos móveis no futuro. A equipe do plasma (notmart, aseigo e companhia) parecem trabalhar muito nesse direção.
Quanto aos sysadmins? Nada de especial. Só continuar com a história de escolher as ferramentas certas para o trabalho certo. O grupo sysadmin (na qual me juntei recentemente) ou o KDE em geral tem um bom histórico disso. Decisões para o SVN (e agora o Git) ou o CMake ao invés de outras ferramentas parecem que foram feitas no tempo certo. Também quando vi o documento explicando a motivação e as razões para a nova infrainstrutura ao redor do git, eu fiquei bastante impressionado sobre o nível de profissionalismo que foi mostrado! Impressionante.