Comunidade brasileira marca presença na Akademy 2018

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De 11 a 17 de agosto, oito brasileiros marcam presença em encontro mundial, na Áustria

Por Bárbara Samuel Rocha Tostes

O encontro mundial da comunidade KDE, o Akademy 2018, aconteceu de 11 a 17 de agosto na Universidade TU Wien, em Viena (Áustria). Com cerca de 30 mil alunos e 20% deles estudando Ciência da Computação, o local ofereceu um ambiente ideal para usuários do mundo todo se encontrarem para trocar ideias, trabalhar em questões concretas de tecnologia, softwares livres, reforçar a cultura inovadora e dinâmica da KDE. O programa do Akademy 2018 começou com uma conferência nos dois primeiros dias, seguido por cinco dias de workshops e sessões de codificação Birds of a Feather (BoF).

O grupo de brasileiros contava com oito pessoas que participam da comunidade, como a historiadora Aracele Torres, que trabalha com promoção, tradução e gestão na comunidade KDE Brasil, os desenvolvedores Tomaz Canabrava, Sandro Andrade, Filipe Saraiva, Caio Carvalho, Eliakin Costa, Helio Castro e Lays Rodrigues; que se comunicam durante o ano todo por IRC, fóruns, listas de discussão e e-mails. Muitos participantes da ampla comunidade de software livre e de código aberto, bem como organizações locais e empresas de software também participaram do Akademy.

O “dia zero” do evento foi na sexta-feira (10), com as inscrições abertas para os participantes locais. No sábado (11), o Akademy teve abertura com a fala da presidente do KDE e.V (entidade sem fins lucrativos), Lydia Pintscher. Na sequência, o keynote, diretor técnico do Grupo de Trabalho de Justiça Transicional, Dan Bielefeld, falou sobre o “Mapeamento de Crimes Contra a Humanidade na Coreia do Norte com FOSS”; explicou o trabalho que faz para mapear locais norte-coreanos de locais de enterro e execução em massa usando tecnologias de mapeamento. Ele também mostrou como funciona a Coréia do Norte e o regime de Kim e como sua organização obtém informações tanto de entrevistas com refugiados quanto de imagens de satélite. Embora o tema do sofrimento dos norte-coreanos seja sombrio, há um lado positivo: “Um dia haverá uma transição, haverá um dia em que o regime de Kim terminará e os norte-coreanos recuperarão a liberdade que lhes é negada há mais de 70 anos. As atividades do Grupo de Trabalho de Justiça Transicional também ajudarão com isso. Descobrir o que aconteceu com os entes queridos e trazer os responsáveis pelas atrocidades à justiça será uma parte crucial de ajudar a nação a se curar”, disse. Ele continua: “E faz sentido, para o Grupo de Trabalho de Justiça Transicional trabalhar com as comunidades de Software Livre e com Softwares Livres. O software oferece ao grupo um grau de segurança e controle que eles não conseguem encontrar em aplicativos de código fechado”, afirma. E as comunidades de Software Livre mantêm os mesmos valores pelos quais o grupo de Dan está lutando, isto é, o direito à privacidade e à liberdade pessoal.

Após a palestra de Dan, o desenvolvedor Adriaan de Groot organizou um painel onde os membros discutiram a questão da privacidade. O desenvolvimento de software que respeita a privacidade é um dos principais objetivos da KDE e os palestrantes explicaram como o desenvolvimento de Assistentes Pessoais Digitais gratuitos e abertos, como o Mycroft, foi crucial para proteger os usuários de corporações espionadas. Combinado com a política subjacente a todos os seus aplicativos de nunca coletar dados de forma não autorizada, a KDE está estritamente fiel ao seu objetivo de preservar a privacidade do usuário.

Ainda no primeiro dia, o desenvolvedor Neofytos Kolokotronis falou sobre o progresso de outro dos principais objetivos da KDE, ou seja, a integração de novos usuários. Neofytos explicou aos participantes o progresso que o grupo de trabalho havia feito até então e para onde eles queriam ir. Ele tinha alguns conselhos sobre como ajudar os novos usuários a ingressar na KDE, como ter uma documentação boa e clara, orientar novos colaboradores e criar conexões fora do seu nicho imediato.

Na sequência, outras palestras como a do indiano Wrishiraj Kaushik, intitulada Winds of Change – FOSS in Índia que falou sobre o atual cenário do software livre na Índia e sua experiência no SuperX e na integração das aplicações KDE com ele.

O governo da união indiana tem uma recomendação nacional para o uso, promoção e desenvolvimento de software livre e de código aberto. Apesar disso, a adoção de software livre permaneceu baixa no país. A decisão tomada por alguns governos estaduais de não adotar essas recomendações em conjunto com o marketing agressivo realizado por fornecedores de software proprietários na Índia prejudicou seriamente o uso do Software Livre. SuperX, no entanto, conseguiu encontrar um lugar dentro do governo e algumas universidades indianas graças à sua abordagem centrada no usuário. O SuperX implantou 30 mil instalações de KDE – uma das maiores implantações do mundo, e há mais 20 mil em andamento.

E o evento seguiu com um painel de discussão com Lydia, Valorie e Bhushan, no qual eles contaram à comunidade sobre os programas de estudantes da KDE e como contribuir para sua implementação e manutenção. Foi uma palestra de alta relevância, dada a meta da Comunidade KDE de simplificar o processo de integração de novos colaboradores e o fato de que uma grande parte da nova base de colaboradores vir através de programas de orientação organizados, como o Google Summer of Code, Google Code-in e Season of KDE.

Mirko Boehm apresentou uma palestra sobre a gênese do Quartermaster, uma ferramenta criada pela Endocode e apoiada pela Siemens e pela Google. A Quartermaster implementa as melhores práticas do setor de gerenciamento de conformidade de licenças. Ele gera relatórios de conformidade analisando dados do ambiente de IC e criando gráficos para análise, principalmente realizando uma combinação de análise de tempo de construção e análise de código estático.

A desenvolvedora brasileira Lays Rodrigues falou sobre o ‘Atelier, um software livre multiplataforma projetado em Qt para ajudar a controlar impressoras 3D. Ele suporta a maioria das impressoras com firmware de código aberto e Lays demonstrou os diversos recursos do Atelier durante sua palestra, incluindo monitoramento de vídeo da impressora, visualização em 3D do design de impressão, gráficos de temperatura e muito mais.

Zoltan Padrah deu uma palestra no KTechLab e explicou como ele descobriu isso como um estudante de engenharia eletrônica em 2008. O KTechLab é um programa que ajuda a simular circuitos eletrônicos e programas rodando em microcontroladores. Ele foi migrado para a infraestrutura da KDE em 2017. Os próximos planos dos desenvolvedores são lançar o KTechLab para Qt4 e Qt5 e portá-lo para o KDE Frameworks 5, bem como adicionar novos recursos como suporte para simular sistemas de automação para mecânica e tem importação/exportação do KiCad.

Depois de um primeiro dia cheio de conteúdos, o evento continuou no domingo (12) com uma palestra da diretora executiva da Wikimedia Austria, Claudia Garad. Ela concentrou sua palestra em alguns dos desafios que organizações como ela enfrentam ao tentar trazer mais inclusão e diversidade dentro de suas comunidades. Ela enfatizou a importância de fazer com que as comunidades sub-representadas se sintam mais bem-vindas e ouvidas dentro da organização, depois passou a falar sobre como ela percebeu que a KDE estava bastante à frente da Wikimedia em alguns aspectos, especialmente quando se tratava de alcançar esses objetivos. Uma das coisas que ela pensou que trouxe uma vibe positiva para a comunidade KDE foi que “a KDE abraça a fofura”, ela disse enquanto exibia um slide com a imagem “pilha de Konqis”. Em uma nota mais séria, ela disse que através de eventos como Akademy, sprints e eventos ao redor do mundo, você pode reunir pessoas de origens imensamente diversas e fazê-las trabalhar para construir uma comunidade mais forte.

Na parte da tarde, os oradores cobriram uma grande variedade de tópicos. Alan Pope, da Canonical, por exemplo, falou sobre a Snapcraft, uma ferramenta baseada na Web que torna incrivelmente simples a criação de um pacote Linux sem código, apenas inserido no git. Enquanto isso, Oliver Smith, o líder de projeto do postmarketOS, falou sobre o sistema operacional do telefone baseado no Alpine Linux e planos para integração com o Plasma Mobile.

Nos outros dias da semana seguinte, os participantes do Akademy 2018 tiveram workshops, debates, trocas de ideias, em diversas salas; e, ao final de cada dia, foi feito um vídeo com os participantes contando o que foi discutido e trazido de benefício para a comunidade KDE. Para assistir os vídeos na íntegra, em inglês, basta visitar:

Prêmios Akademy

No final do segundo dia houve a cerimônia do Akademy Awards. O Akademy Awards é uma forma de honrar os membros que fizeram um excelente trabalho em benefício de toda a comunidade.

O prêmio Application Akademy foi para Aditya Mehra por seu trabalho na integração do Mycroft, fornecendo ao ambiente KDE um assistente de voz que é livre como em liberdade.

O Non-Application Akademy Award foi para Valorie Zimmerman pelo seu trabalho na condução dos programas de tutoria da KDE e do Community Working Group, sendo uma das boas almas do KDE.

Houve três prêmios do júri este ano, eles foram para Sebastian Kügler para os seus muitos anos de hacking implacável e muito mais (Plasma, KDE Marketing, tempo no KDE eV Board), David Edmundson por seu trabalho no Telepathy, portando aplicativos para Frameworks 5, Plasma, KWin, KWayland, e ser um cara louco e Mario Fux por apoiar a KDE durante muitos anos organizando as reuniões de Randa.

A equipe Akademy foi agraciada com o Prêmio Organizacional a Stefan Derkits e toda a equipe responsável por montar o Akademy 2018. Parabéns aos vencedores!

Comunidade KDE

A KDE é uma comunidade de software livre dedicada a criar uma experiência de computação aberta e fácil de usar, oferecendo um desktop gráfico avançado, uma ampla variedade de aplicativos para comunicação, trabalho, educação e entretenimento e uma plataforma para criar novos aplicativos facilmente. Temos um forte foco em encontrar soluções inovadoras para problemas antigos e novos, criando uma atmosfera vibrante aberta à experimentação.

Sobre a Akademy

Na maior parte do ano, a KDE funciona on-line por e-mail, IRC, fóruns e listas de discussão. O Akademy oferece a todos os colaboradores do KDE a oportunidade de se encontrar pessoalmente para promover laços sociais, trabalhar em questões concretas de tecnologia, considerar novas ideias e reforçar a cultura inovadora e dinâmica do KDE. O Akademy reúne artistas, designers, desenvolvedores, tradutores, usuários, escritores, patrocinadores e muitos outros tipos de colaboradores do KDE para celebrar as conquistas do ano passado e ajudar a determinar a direção para o próximo ano. Sessões práticas oferecem a oportunidade para um trabalho intenso, trazendo esses planos para a realidade. A comunidade KDE dá as boas-vindas às empresas que desenvolvem tecnologia KDE e àquelas que buscam oportunidades.

Viena e Akademy

Viena, capital da Áustria, tem cerca de 1,8 milhões de habitantes. Está localizada no meio da Europa Central, junto ao rio Danúbio. Com sua rica história, desde a época romana, passando a ser a capital do Império Habsburgo, a ser uma cidade moderna, classificada como número um em diversos estudos sobre qualidade de vida.

LaKademy

A comunidade KDE brasileira vai organizar o LaKademy (Latin-American Akademy), que acontecerá no Auditório EFI da Universidade Federal de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis (SC), de 11 a 14 de outubro. Quer participar? Visite este link para saber mais!

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